A formação em engenharia é um dos desafios para o desenvolvimento do
Brasil. O Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG) aponta que o Brasil
vive hoje uma grande demanda por engenheiros e tecnólogos. Somente com o
pré-sal, o setor de petróleo e gás deve contratar mais de 150 mil
engenheiros em diferentes especialidades. Com a área formando apenas 11%
dos doutores do Sistema Nacional de Pós-Graduação, se coloca a questão
se a carência de engenheiros poderia comprometer o desenvolvimento de
infraestrutura do país.
 Carlos Sampaio – coordenador da área de Engenharias II (Foto: Guilherme Feijó - CCS/Capes)
Reunidos
para a Avaliação Trienal 2013 da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes), os coordenadores das áreas de
engenharia fazem um panorama da formação no país e traçam ações e
estratégias que a comunidade acadêmica e o governo podem tomar para
reverter esse quadro.
"O número de sengenheiros que temos no Brasil em relação à nossa
economia e população é pequeno. Então, sem dúvidas, precisamos aumentar
os nossos quadros", afirma o coordenador da área de engenharias I,
Estevam Barbosa de Las Casas.
Um fenômeno que exemplifica a carência de profissionais na área é a
vinda de engenheiros de outros países para trabalhar no país. "Hoje o
que acontece é um fluxo de profissionais de outros países que vêm ao
Brasil para trabalhar nas engenharias", afirma Las Casas. "Há muitos
profissionais trabalhando no país que vêm da Espanha e Portugal",
exemplifica o coordenador da área de Engenharias II, Carlos Sampaio.
 Estevam de Las Casas – coordenador da área de Engenharias I (Foto: Guilherme Feijó - CCS/Capes)
Sampaio afirma ainda que a carência é sentida nas diversas áreas de
formação. "Existe uma demanda muito grande por engenheiros capacitados
em todas as áreas da engenharia, desde mineração até engenharia civil e
como leva um tempo bastante grande até que ocorra a titulação de mestres
e doutores, sem dúvida haverá uma demanda muito grande por esses
profissionais".
Ações Para minimizar a carência de formação na
área, os coordenadores de engenharia são unânimes em apontar a melhoria
dos programas atuais, com implementação de mais bolsas e a abertura de
mais cursos de qualidade. Mas existem ainda diferentes ações que podem
capacitar a formação de engenheiros no país. Para o coordenador da área
de Engenharias II, Carlos Sampaio, o mestrado profissional é uma
modalidade importante para se investir. "Se incentivado, o mestrado
profissional pode suprir boa parte das demandas do mercado", afirma.
 Nei Soma - coordenador da área de Engenharias III (Foto: Guilherme Feijó - CCS/Capes) Essa
opinião é compartilhada pelo coordenador da área de Engenharias III,
Nei Soma. "As engenharias do país, na parte de pós-graduação, tem
apostado na área prática, por isso os mestrados profissionais vêm
crescendo de maneira significativa na área", explica. Ele destaca ainda o
processo de cooperação entre cursos de pós-graduação para a melhoria da
formação em regiões carentes do país. "Nós temos feito programas de
nucleação com áreas mais carentes, cursos melhor classificados atuam
juntos dos mais recentes e assim nós temos examinado o avanço da
pós-graduação em direção ao Norte e ao Oeste do país", explica.
Graduação e educação básica Os coordenadores
afirmam que, além de voltar a atenção para a pós-graduação para resolver
a questão das engenharias no país, é preciso promover a melhoria dos
cursos de graduação e na educação básica. "Esse problema na
pós-graduação é um reflexo do que acontece na graduação. Ao longo dos
anos, houve um desinteresse dos estudantes para os cursos de engenharia,
que são exigentes, demandam mais tempo e a remuneração do mercado não é
adequada", conta o coordenador da Engenharias IV, Antônio Marcos.
 Antônio Marcos - coordenador da área de Engenharias IV (Foto: Guilherme Feijó - CCS/Capes)
De acordo com o coordenador, é importante fixar os alunos nos anos
iniciais do curso. "Foi constatado que se o aluno de graduação de uma
engenharia fica até o segundo ano e meio, ele consegue terminar o
curso", explica. Assim, ele destaca o Programa Jovens Talentos para a
Ciência (JTCIC), coordenado pela Capes, como iniciativa que pode
reverter esse quadro. "Esse programa conseguiu segurar os alunos. Ainda
não estamos vendo os efeitos disso, porque é um programa muito novo, mas
acredito que é de fato um programa sério, objeto de políticas de
governo, para fazer com que os estudantes jovens se interessem pela
engenharia e assim alcance a pós-graduação", afirma.
O coordenador da área de Engenharias I, Estevam Barbosa De Las Casas,
destaca a visão sistêmica da educação promovida pelo Ministério da
Educação (MEC), que reúne esforços para a melhoria da educação básica
como maneira de resolver problemas encontrados na educação superior. "A
preocupação do Ministério da Educação hoje começa no ensino básico para
poder preparar os estudantes inclusive para que um dia se interessem
pelas engenharias, melhorando o ensino de matemática, física e ciências
em geral", explica.
Grupo de trabalho Com o objetivo de incrementar a
formação de engenheiros no país, a Capes foi responsável, em 2010, pela
criação de um grupo de trabalho com o objetivo de propor ações
indutoras para estimular o ingresso de estudantes nos cursos na área. "O
grupo estudou mecanismos de estímulos à formação de engenheiros na
graduação e com reflexos óbvios na pós-graduação", afirma o coordenador
da área de Engenharias IV, Antônio Marcos.
O coordenador explica que todas as áreas de engenharia foram
convidadas para participar do grupo e fizeram sugestões, sendo que
algumas já entraram em prática. "O incentivo aos alunos dos primeiros
anos pelo Jovens Talentos e o estímulo às olimpíadas de conhecimento são
bons exemplos. Ainda há espaço para melhorar, para novos programas, é
uma ação que merece ser continuada para que as engenharias continuem o
seu desenvolvimento", conclui.
(Pedro Matos) |