 Rainer Randolph (Foto: Guilherme Feijó - CCS/Capes) Mesmo
com um crescimento da ordem de 25% ao triênio, o Sistema Nacional de
Pós-Graduação ainda apresenta assimetrias com relação ao desenvolvimento
da pós-graduação entre as regiões geográficas. Para o coordenador da
área de Planejamento Urbano e Regional/Demografia, Rainer Randolph, esta
situação existe em todas as áreas. "Na verdade, não estamos falando de
assimetrias, mas de desigualdades. Entre as macrorregiões do Brasil,
temos uma concentração de programas no Sudeste, acho que isso é comum
nas demais áreas. Mas também temos essas desigualdades entre as áreas
metropolitanas e as áreas interioranas dos estados. Na nossa área, em
particular, temos programas criados recentemente fora das áreas
metropolitanas, que acredito que tenha contribuído para uma maior
igualdade entre oferta de cursos nas metrópoles e no interior do país."
Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rainer
diz que, atualmente, essa interiorização na área que coordena é mais
forte no Sul, mas também ocorre no interior da Paraíba, por exemplo. No
Norte, o problema decorre do fato de os programas estarem mais
concentrados nas capitais. "Nossa área é representada do Norte ao Sul,
mas ainda apresenta problemas com relação à interiorização. Temos
trabalhado com a formação de mestres e doutores em áreas fora das
grandes metrópoles", afirma.
 Berenice Rojas Couto (Foto: Edson Morais - CCS/Capes) A
coordenadora da área de Serviço Social, Berenice Rojas Couto, que é
vinculada à PUC do Rio Grande do Sul, reconhece que a assimetria é um
problema do Brasil em geral. "Obviamente que ainda existe assimetrias,
mas ela tem sido, ao longo dos últimos triênios, enfrentada com a
criação de novos programas de mestrado e doutorado. Nossa área ainda é
pequena com relação à necessidade e à demanda, mas temos preferido,
enquanto área, fazer um enfrentamento dessa questão de forma
qualificada. O problema é a formação de doutores, que ainda é um número
pequeno."
Couto ressalta que no julgamento de novos programas a questão da
expansão tem sido levada como critério, sempre com foco na qualidade.
Para ela, a assimetria acontece por uma questão cultural e que a partir
da demanda do próprio governo as áreas estão vendo a necessidade de
formação de recursos humanos de alto nível para dar conta de um problema
tão importante, que é o desenvolvimento do país. "Essas assimetrias
começaram a ser perseguidas no sentido que a gente possa reduzi-las com
qualidade", conclui.
Já Martonio Mont'Alverne Barreto Lima, coordenador da área de Direito
da Capes e vinculado à Universidade de Fortaleza (Unifor), há certa
dificuldade de compreensão de que a instalação de um programa de
pós-graduação não é só meramente uma questão de dados, uma questão
objetiva, é uma questão de política de desenvolvimento também. "Acho que
a comunidade acadêmica tem que incorporar essa visão para dar os passos
significativos que o país precisa", afirma.
 Martonio Mont'Alverne Barreto Lima (Foto: Edson Morais - CCS/Capes)
Para
Lima, a assimetria regional de programas de pós-graduação existe quando
se observa em números absolutos, mas quando se observa em números
proporcionais, há outra conclusão. "Nós observamos que, na verdade, a
região Sul e a região Sudeste, que contam com maior número de programas,
proporcionalmente também são carentes, são deficitárias. Porque quando
comparamos o número de habitantes com o número de programas que elas
têm, nós vemos que há uma falta. Portanto há um espaço muito grande para
o crescimento da área, com necessidade de estratégica nacional."
O coordenador disse que na área de Direito, no ano de 2012, todos os
pedidos de mestrados e doutorados interinstitucionais foram aprovados.
Ele reforça que esses programas vão atender regiões completamente
desassistidas, como o Vale do Jequitinhonha (MG) e as regiões Norte de
Nordeste do país. "Fizemos isso, mas reconhecemos que precisamos mais",
afirma.
 Eliane Pereira Zamith Brito (Foto: Guilherme Feijó - CCS/Capes)
A
coordenadora da área de Administração, Ciências Contábeis e Turismo,
Eliane Pereira Zamith Brito, da Fundação Getúlio Vargas, (FGV-SP),
reconhece que há concentração forte nas regiões Sul e Sudeste, em
especial se for considerada apenas a modalidade de doutorado. Pelo fato
de haverem poucos cursos na região Nordeste, a área está discutindo a
possibilidade de alçar as notas dos mestrados na região. "Isso
acontecerá se, claro, merecerem. Assim será possível abrir também um
curso de doutorado no programa. Na região Norte não temos nenhum curso
de doutorado e apenas dois cursos de mestrado, um acadêmico e um
profissional, ambos com conceito 3. A questão central é que não temos
doutores na região Norte para comporem o corpo docente desses programas.
Não temos matéria prima básica para comporem cursos novos. Na região
Centro-Oeste estamos superando este desequilíbrio."
A professora também reforça a necessidade de atrair professores para
essas regiões e afirma que falta articulação entre as instituições para
discussão da importância da área para a região. "A área tem procurado
trabalhar junto com as instituições que demonstram interesse para
mostrar caminhos, como associações, e fazer com que professores de fora
sejam cedidos durante um período para ajudar outras instituições. Falta
disponibilizar recursos para o trânsito de professores."
 Estevam Barbosa de Las Casas (Foto: Edson Morais - CCS/Capes) Estevam
Barbosa de Las Casas, professor da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) e coordenador da área de engenharias I, diz que existem sim
assimetrias e que elas acontecem em função do desenvolvimento regional.
"Muitas vezes é difícil fixar professores. Dentro do sistema federal de
educação é bastante comum alguém fazer um concurso em Rondônia, por
exemplo, e aproveitar para se transferir para mais perto de casa." Para
ele, é preciso uma forte política de indução para que esta situação seja
sanada.
Para Carlos Frederico de Oliveria Graeff, coordenador da área de
Materiais e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp/Bauru), a
área não tem muito problema com relação à região Nordeste, pois nos
últimos anos houve forte expansão de novos programas e quase todos os
estados da região estão contemplados com algum programa. "Para uma área
pequena como é a área de Materiais, acho bastante notável. Existe
dificuldade no Centro-Oeste e no Norte, principalmente. No Norte não
temos nenhum programa e nenhuma proposta", conta.
 Carlos Frederico de Oliveria Graeff (Foto: Guilherme Feijó - CCS/Capes) Graeff
falou sobre a dificuldade de fixação de docentes na região Norte.
"Falta políticas mais claras no sentido de formar um grupo mínimo em uma
determinada instituição que sirva de semente para que outras
instituições tenham esse mesmo tipo de desenvolvimento. Temos
pesquisadores espalhados na região Norte, mas precisamos de um grupo
unido. Seria interessante a existência de programas para apoiar grupos",
sugere.
Ações Como ações que visam a redução das
assimetrias regionais, os coordenadores apresentam algumas sugestões. A
coordenadora da área de serviço social, Berenice Rojas, diz que a Capes
tem tido um importante papel indutor nessa questão. "Antes esperávamos
que as universidades fizessem propostas e, hoje, não só a Capes espera
que as universidades façam propostas com qualidade, como também ela
localiza áreas assimétricas e vai atrás de qualificar essas áreas. Os
coordenadores de áreas têm ido a essas regiões, têm feito contato com
grupos de professores, têm visto a necessidade", afirma. Rojas também
ressalta que a Capes tem feito programas de bolsas importantes para as
regiões com menor desenvolvimento da pós-graduação. "Existe um
investimento do ponto de vista da Capes no sentido de que a gente
resolva as assimetrias. O Brasil só será desenvolvido se for plenamente
atendido nessas necessidades", conclui.
Para Martonio Lima, as grandes instituições, nas quais estão os
programas que são melhores avaliados, têm um papel fundamental nisso.
"Elas deveriam ter mais solidariedade em termos de país. A gente pensa
em resolver os aspectos nacionais, mas já recebemos provocações
internacionais de países africanos de língua portuguesa que tem
procurado a academia brasileira para qualificar seus professores e seus
alunos nesses países. Então a tarefa é dupla, pois o Brasil tem que
fazer isso. Temos que resolver o problema interno e também não podemos
deixar de atender o problema externo", afirma.
Eliane Brito diz sugere que a Capes poderia fomentar diretamente
doutorados interinstitucionais em regiões que estão precisando. "É
preciso definir mesorregiões prioritárias e, em vez de os programas
prospectarem, a Capes poderia fazer essa prospecção para prioridades
identificadas."
Já para Rainer Randolph, em geral, o que poderia ser feito é melhorar
as condições de trabalho em locais onde é preciso para que as pessoas
tenham vontade de ficar nesses lugares. "É preciso investimentos em
infraestrutura, melhores condições em geral, pois, assim, também cria-se
melhores condições para criação de novos cursos. A criação de novos
cursos é iniciativa de grupos de pesquisa, portanto, essas pessoas
precisam se sentir motivadas", conclui.
Natália Morato e Fabiana Santos |